sexta-feira, 21 de outubro de 2011

o que o mercúrio qumico causa no meio ambiente e nos seres humanos:

Estudos registram o uso do mercúrio (Hg – do latim hydrargyrus) na região do Mediterrâneo desde 500 a.C. na extração de outros metais pelo processo de amalgamação. Os alquimistas, na Era Medieval, misturavam enxofre ao mercúrio acreditando na transmutação dos metais e que essa reação resultaria em ouro. É o único elemento químico metálico que se apresenta na forma líquida à temperatura ambiente e possui características de dissolver facilmente outros elementos químicos como o ouro, a prata, o chumbo e metais alcalinos formando ligas relativamente consistentes, conhecidas como amálgamas. O mercúrio ocupa posição no grupo IIb (metais de transição) na tabela periódica e é considerado um elemento químico não-essencial, pois não se conhece função metabólica do Hg em nenhum ser vivo. No entanto, sua utilização para facilitar nosso dia-a-dia é bastante ampla.

Origem

     A formação geológica com maior teor de Hg do planeta está situada na Espanha, seguido da Itália, Estados Unidos, México, China e Japão. No Brasil não temos mina de mercúrio, o que nos obriga a importá-lo para atender nossas necessidades. A obtenção do Hg na forma metálica é adquirida pela combustão do sulfeto de mercúrio (cinábrio) com o ar atmosférico. Chineses e indianos, muito antes da Era Cristã, já usavam o cinábrio na fabricação de tintas e pinturas.
     Já os romanos dominavam a arte de reduzi-lo quimicamente da forma de sulfeto para a forma metálica. Registros revelam mercúrio em túmulos egípcios que datam de meados do segundo milênio antes de Cristo. “Prata Líquida” foi como Aristóteles o chamou, por sua semelhança em aspecto e cor com a prata. Foi um dos primeiros elementos estudados e tem sido de interesse para os estudantes de química desde os dias da alquimia até a atualidade.

Usos e aplicações

     Embora extremamente tóxico, o mercúrio tem várias aplicações na agricultura, como fungicida e bactericida, na medicina como anti-séptico de aplicação tópica e nas indústrias química, elétrica e eletrônica. Os equipamentos de medidas de pressão arterial, de pressão atmosférica e os termômetros empregam o mercúrio por sua alta densidade e baixa pressão gasosa. O mercúrio, por sua excelente condutividade elétrica, é aproveitado também na fabricação de interruptores e relés, bem como em lâmpadas ultravioleta, fluorescentes e de vapor (vapor de mercúrio). O óxido de mercúrio é usado como eletrodo em pilhas e baterias.
     Empregado na medicina desde a Antiguidade, o mercúrio vem sofrendo substituição por outros medicamentos mais potentes e menos tóxicos. Outra grande contribuição desse metal é na odontologia onde é utilizado, juntamente com outros metais, para formar o amálgama dentário, técnica eficiente e de baixo custo na saúde bucal.

Risco para a saúde

     Juntamente com o cádmio e o chumbo, o mercúrio é bastante estudado e de comprovada ação neurotóxica. A sua principal via de absorção, pelo corpo humano, é a respiratória. No entanto, também pode ser absorvido pelo contato com a pele, ou através do sistema gastrointestinal. Mas a principal contaminação é via ingestão de alimentos contaminados com o metil-mercúrio (forma química orgânica mais tóxica), sendo os peixes e frutos do mar os mais importantes vetores.
     À medida que o mercúrio entra na circulação sanguínea, liga-se a proteínas e se distribui pelos tecidos, concentrando-se nos rins, fígado, medula óssea, cérebro, ossos e pulmões. Em nível de via digestiva, o mercúrio exerce ação cáustica responsável pelo transtorno digestivo. As intoxicações por mercúrio variam seus sinais e sintomas de acordo com o nível de intoxicação (aguda, subaguda e crônica). No sistema nervoso, os resultados de seus efeitos são desastrosos, podendo causar de lesões leves até a vida vegetativa ou à morte. O metil-mercúrio, por possuir alta solubilidade em gorduras, pode ser transferido do sangue da mãe para o filho através da placenta, pois o bebê é mais sensível a pequenas doses de mercúrio do que indivíduos adultos.

Acidentes

     Estimativas realizadas na década de 1970 revelam que, desde meados dos anos 30, mais de 1,4 mil mortes e cerca de 20 mil seres humanos sofreram ou sofrem de danos físicos e/ou neurológicos, causados por acidentes ou descasos com o mercúrio em todo o globo terrestre, relevando um índice de mortalidade entre 7% e 11% do total de intoxicados por esse metal.
     Desde a segunda metade do século passado, grande atenção tem sido dada à toxicologia do mercúrio, principalmente, devido ao acidente ocorrido em Minamata, Japão (1953–1960), que ocasionou o envenenamento por mercúrio de milhares de pessoas e o surgimento da chamada “doença de Minamata”. Nesse acidente, cerca de três mil pessoas receberam indenização do governo japonês, embora estejam estimados cerca de dez mil intoxicados com cerca de 80 casos letais.
     A causa da tragédia foi o consumo de peixes e frutos do mar contaminados por metil-mercúrio oriundo de efluentes de uma indústria de PVC. Esses lançamentos foram paulatinamente contaminando a biota aquática por meio do fenômeno de biomagnificação, que é o aumento da concentração de mercúrio ao longo da cadeia alimentar. A população passou a sentir sintomas como perda de visão e, principalmente, sérios comprometimentos na coordenação motora e muscular, além do nascimento de crianças com danos neurológicos irreversíveis.
     Outro acidente de proporções drásticas ocorreu no Iraque na década de 70, onde cerca de 1,2 mil casos de intoxicação foram registrados, com o envenenamento de pessoas após consumo de sementes de trigo destinadas ao plantio. Estas sementes estavam preservadas com um fungicida à base de mercúrio.

Uso no Brasil

     No Brasil, utiliza-se mercúrio majoritariamente nas indústrias eletroeletrônica e química, muito embora seu maior uso sem controle tenha ocorrido nos garimpos de ouro da Região Norte do Brasil, principalmente entre os anos 70 e 90. Estima-se que mais de 500 toneladas tenham sido lançadas na Amazônia brasileira nesse período. Nesse tipo de mineração, o Hg é utilizado para amalgamar o ouro fino distribuído nos solos e rios da região, e, em seguida, a separação é realizada por fusão, onde se perde o mercúrio para a atmosfera e o ouro fica retido no fundo da bateia (cuia de metal utilizada na mineração). Nessa operação ocorre a contaminação dos corpos d’água, da atmosfera e do garimpeiro. Uma vez lançado no ambiente, o mercúrio contamina a biota e, posteriormente, as populações que têm no peixe sua principal fonte de proteína.
     Em face da sua reconhecida toxicologia e dos sérios danos já causado ao ambiente e à saúde humana, o mercúrio vêm sendo, gradativamente, substituído em seus diferentes usos, proposto e iniciado pelos países escandinavos. Na Amazônia, embora os lançamentos de mercúrio tenham diminuído com o uso de destiladores e a redução da atividade de mineração de ouro, necessita-se de monitoramento do ambiente e atenção sobre as populações tradicionais ribeirinhas.

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